quinta-feira, 26 de maio de 2011

Fuga de Si

Enfrentar, sem desviar. Reconhecer-se. Senhor dos seus medos. Preparar-se. Estar maduro o suficiente para cruzar a fronteira. Termos importantes. Elementos para uma mudança genuína. Os saberes organizados pouco poderão mostrar de valor se não forem introjetados a partir da experiência própria, real. Em meio a tantas palavras, o silêncio e a ativação dos sentidos é um ato de rebeldia. E o que vem depois do enfrentamento é desconhecido para mim e para você. Não podemos fugir de nós mesmos. A auto-alienação é um processo que ocorre nas instâncias da consciência, a camada mais extraordinária da, ou a própria existência.

sábado, 14 de maio de 2011

A água que absorveo soco...

A água que absorve o soco

por Cássio Luiz Medeiros, sábado, 14 de maio de 2011 às 05:29

Depois de conversar um tanto sobre a "sombra" psicológica, o lado obscuro do ser humano, que encerra em si também a potencialidade de expansão, a força Yang, e possibilidades de ressignificações, ouvi um gentil "vá na sombra", que acabou se tornando uma realidade e tudo pôde ser experienciado e comprovado e discutido e aprendido! Fomos assaltados uns 5 minutos depois. De peixeira!! A sombra de outro se apresentou na nossa frente. Em uma clara imposição de poder, esse lado negro motivou reflexões sobre o ego, combate, enfrentamento, fuga, o início e o desafio do conflito (dentro). Tudo foi lição, tudo aconteceu dentro, ninguém se feriu no corpo. Um foi cutucado de faca, mas sem gravidade. E voltando ao título, penso, existiu um conflito? Se alguém quiser lutar ele luta, não intimida. Quem quer fazer, faz, não fala. O que é iniciado precisa ser fechado. Iniciar um combate não pode trazer um fechamento sem perdas reais. O crescimento real está Aqui, não houve nada, nem nunca haverá que não nos faça crescer!! Dedico a Clóvis Neto e Felipe Barba. Uma noite de aulas práticas!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Voltando à ativa

É proveitoso reler um livro há muito tempo deixado de lado, desta vez com uma nova percepção ou a mesma percepção amadurecida pelas suas próprias experiências!!
O tormento do ideal é deixar a vida passar. Deixar a vida passar longe, estando plenamente centrados em nossa auto-imagem, procurando satisfazê-la ao invés de satisfazermos a nós mesmos. Acredito que o caminho do auto-conhecimento baseia-se num resgate de nosso estado perceptivo mais natural, sem interrupções mentais, sem o boicote auto-induzido que ora julga, ora se vitimiza. A auto-imagem, a imagem social, conflitua com o fluir orgânico espontâneo e a esse conflito, que Perls chamou simplesmente e claramente de "confusão", devemos toda a estagnação que resiste às mudanças reais!

domingo, 12 de abril de 2009

Egoísmo

Hoje me perguntei sobre o egoísmo... Quase caí na cilada maniqueísta: é ruim ou bom?
Então perguntei-me, como me sinto agora, refletindo sobre isso. E descobri, que essa dúvida não é algo pertinente, para mim...Descobri que fui afetado por esse quase-dilema pelo fato de ele estar ali representando uma tentativa de fechamento de algo lá atrás que ficou em aberto. Mas me incomoda a maquiagem. Meus dentes travam. O cenho fica cerrado. Tensão. O natural me atrai.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Gestalt e Psicologia da Morte (Parte VI)

A Morte como Frustração e possibilidade de Amadurecimento

A dor do luto é um sintoma, uma maneira de alcançar o equilíbrio pela auto-regulação. Ele é uma manifestação não apenas do inconsciente, da mente, mas da integração entre corpo e mente. Tomando a morte ou as perdas como frustrações, podemos vislumbrar nela também a possibilidade de amadurecimento. Para a Gestalt-terapia, a maturação é um processo de crescimento contínuo, em que o apoio ambiental é transformado em auto-apoio. O equilíbrio variável entre apoio e frustração capacita a pessoa a tornar-se independente, livre pra usar seu potencial inato.A morte, portanto, é uma experiência que dá possibilidade para amadurecimento, mas na medida em que é vivenciada com toda sua intensidade e que a frustração é integrada ao momento vivencial. O contato com a frustração e a tomada de consciência com as mudanças que se processam dará a possibilidade à pessoa de reequilibrar-se, através da re-significação dos vínculos perdidos. Por outro lado, quando existe a tentativa de se viver o mais “normal” possível, as pessoas tendem a isolar a dor, distanciar-se da frustração, desconsiderando o vivido em seu aspecto existencial como um todo, e então não há aprendizado, não há amadurecimento.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Gestalt e Psicologia da Morte (Parte V)

Tomada de consciência, o Aqui-Agora

O Aqui-agora é o tema central para se refletir sobre a experiência da vida e
da morte. Na Gestalt-terapia, a tomada de consciência do presente é a
direção para enfatizarmos nosso contato autêntico com o meio. É através
desse contato com o momento presente que o indivíduo tem a possibilidade de
entrar em “Awareness”. O Awareness é um estado em que o organismo mantém-se
consciente de seu ciclo de iniciação e destruição de Gestalten. Nessa
condição, a pessoa descobre os mecanismos pelos quais ela aliena parte dos
processos de seu self, evitando a consciência de si e de seu ambiente.
Certa vez, um pianista chamado Vladimir Horowitz tocou uma peça musical
contemporânea dissonante em uma reunião particular. Ao final, alguém
perguntou: “Eu simplesmente não entendi o que essa peça significa, senhor
Horowitz. O senhor poderia explicá-la?” Sem uma palavra, Vladimir Horowitz
tocou novamente a peça, voltou-se ao indagador e anunciou: “É isso o que ela
significa!”.
Essa história retrata de forma simples a dificuldade em se lidar com a
consciência do agora. Fritz fala que o óbvio é uma das coisas mais difíceis
de entender. Muitas pessoas acabam bloqueando seus sentidos para evitar o
contato com o Agora. Elas olham, mas não vêem, escutam, mas não ouvem. Dessa
forma, se alienam, seguindo uma existência sem sentido para elas mesmas.
Nesse sentido, a Gestalt compartilha com o pensamento oriental a
contemplação e celebração de cada momento da vida. O viver no Aqui-Agora,
pregado até mesmo como filosofia de vida, significa estar livre das regras e
convenções impostas pelo intelecto, usufruindo da vida com naturalidade,
simplicidade e espontaneidade. Cada um tem seu próprio ritmo no Aqui-agora,
focalizando a mente no presente. É no presente que as experiências são
vivenciadas. As preocupações e agitação do cotidiano, detêm a mente do ser
humano. A Gestalt-terapia, por influência do zen-budismo, assume que a
postura do indivíduo deve ser de plena consciência de tudo o que se faz, o
que demanda uma constante observação e vivência da realidade.
Em contraste com esse pensamento, no mundo ocidental as pessoas tendem a
adiantar expectativas futuras ou a retroceder ao passado para defenderem-se
da dor do reconhecimento da possibilidade de morte no presente. O
reconhecimento da morte como inevitável, se integrado ao Aqui-agora, ao
momento presente, pode significar um amadurecimento precioso ao indivíduo,
na medida em que ele for por si mesmo assumindo a responsabilidade por dar
qualidade ao seu modo de viver, através da integração das partes do
organismo que foram descartadas pela auto-alienação.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Gestalt e Psicologia da Morte (Parte IV)

Situações Inacabadas e Morte


Continuando a linha de raciocínio sobre a morte e o viver, é imprescindível
falarmos sobre as situações inacabadas, e como elas estão relacionadas aos
processos de perdas e luto.
Uma situação inacabada ou Gestalt incompleta é toda experiência que fica
suspensa até que a pessoa a conclua. A maioria das pessoas possuem uma
grande capacidade para tolerar situações inacabadas. Entretanto, estes
movimentos que não são completados buscam naturalmente um complemento e,
quando se tornam suficientemente poderosos, o indivíduo é envolvido por
preocupações, comportamentos compulsivos, cuidados, energia opressiva e
muitas atividades auto-frustrantes. É a auto-regulação organísmica fazendo
seu papel, buscando o equilíbrio. Por exemplo, se você não xinga seu chefe
no trabalho, mas gostaria realmente de fazê-lo, e então vai para casa e o
faz com seus filhos, há grandes probabilidades de que isto não funcione
porque é somente uma tentativa fraca ou parcial de terminar alguma coisa que
de qualquer maneira ainda está suspensa, inacabada. Uma vez que a
finalização foi alcançada e que pode ser experienciada plenamente no
presente, a preocupação com o antigo não-completamento é resolvido e a
pessoa pode caminhar para as possibilidades atuais, no Aqui-Agora.
No luto, as situações inacabadas emergem geralmente como um sentimento de
culpa. Em diversas situações de perda, como por exemplo, em suicídios, em
situações em que a pessoa falecida passou muito tempo debilitada por alguma
doença forte e foi acompanhada com angústia pelos familiares, em casos de
acidentes em que há sobreviventes, em situações em que há desentendimento ou
mágoa entre o morto e os que ficaram, há quase sempre presente o sentimento
de culpa. Seja por não ter vivido tudo o que queria com a pessoa que se foi,
ou por se achar causador da morte de um suicida, ou pelo arrependimento por
não ter passado os últimos momentos do falecido em harmonia com ele, muitas
pessoas carregam em si esse sentimento negativo. A culpa pode travar a vida
de uma pessoa por muito tempo, e geralmente esse sentimento está presente
até mesmo no dormir e no acordar desta pessoa, tornando-se um tormento
cotidiano.
Do fechamento das situações inacabadas depende o processo de luto saudável.
Num indivíduo integrado os processos de formação e destruição de Gestalten
são ininterruptos. As despedidas mal-feitas e os olhares mal dados às
vivências de perdas são fatores cruciais para entender como interrompemos
nosso fluxo auto-regulativo, e ficamos impedidos de viver plenamente no
momento presente.