quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Vontade

Vontade

Não quero teus pés aprisionados em sapatos: teus pés são raízes que nunca se fixam. Eu quero as histórias de tuas andanças. Não quero teus olhos pousados em mim, quero o que eles vêem quando olhas o longe, o que eles escondem quando estás dormindo. Não quero o que há em ti de delicado, a concha da orelha, os dedos das mãos, a ternura que atrai crianças e passarinhos. Tampouco quero tua brusquidão, teu alheamento frente às coisas da vida, esse dom de magoar, ciente do que faz. Só quero de ti o que não te pertence -o que foge ao teu controle, o que vai além de ti. Não quero de tua boca discurso ou silêncio, sequer tua risada, que exige consciência. Eu quero o grito.
By Geórgia Teodoro