domingo, 28 de setembro de 2008

Torna-te quem és...

"Um grão de trigo tem o potencial de se tornar uma planta e a planta de trigo é sua realização. Auto-realização significa que o grão de trigo se realizará como planta de trigo e nunca como planta de cevada. "

Há um lema
Mesmo que poucos possam ouví-lo
Ou simpatizem em seguir gritos de guerra
Faço-me ouvir por aqueles que querem ouvir
Quem quer algo, consegue
Mesmo coberto de vaidade ou de representações teatrais
Há ainda uma voz que usa o sistema contra ele próprio
E ao assumir essa voz, sinto-me desconfortável
Mas isso é só vaidade
Então, que seja útil de alguma forma

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Gestalt e movimento

Em níveis pequenos as gestalten abertas são completamente suportáveis... mas o efeito cumulativo das situações inacabadas pode criar uma crosta dura que aparece como resistência às mudanças. A quebra das barreiras, das crostas, implica em auto-esforço e liberação. É baseada nas filosofias orientais, principalmente o zen-budismo, que a gestalt se apóia enquanto filosofia de vida. É um auto-perceber-se em movimento. Mas o budismo gestáltico requer inclusão e experienciação de si-mesmo, principalmente das sombras, dos medos, daquilo que teimamos em não aceitar. A auto-aceitação é um processo de enfrentamento difícil, de quebra de padrões internos. A gestalt não é superficial apenas por não dar tanta importância às interpretações do inconsciente. A gestalt é profunda justamente por trabalhar o homem como ele é. Não como ele foi. Através dos enfrentamentos de situações resistentes é que a verdade vem à tona... uma verdade pessoal muito mais profunda, limpa, sem o nevoeiro das distorções que teimamos em criar.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Já Nelas

Tão somente trata-se de contemplar as janelas.

As portas estão todas lá, e nos dizem sem demora nenhuma aquilo que nos espera para além de sua passagem. As portas são as primeiras e mais visíveis entradas; o esperado que cansado de tanto esperar, já se mostra. E mostra-nos, sem culpa e meia-culpa, a paisagem construída e óbvia do que seja uma sala de visitas.

Nas salas de visita, os visitantes são sempre aguardados de alguma maneira. Os visitantes visitam, e uma visita há de sempre ser esperada, por mais remota que seja a possibilidade d´ela aparecer. Porque as visitas apenas adentram aos recintos pelas portas; porque as visitas tocam as cigarras, batem palmas, assoviam ou gritam para anunciar sua presença. O que poderia ser surpreendente desaparece.

O anúncio anterior de uma chegada, já elimina naturalmente qualquer possibilidade de ela existir. As portas representam a morte das chegadas, o fim abrupto de todo o aparecimento e do mistério saboroso que pode envolver todo conhecimento imprevisto. Não se fala “apareceu pela porta”, mas sim “entrou pela porta”. As possibilidades se fecham com o lento escancarar-se de todas as portas. Damos de cara não com alguma coisa que nunca foi vista pelos nossos olhos, mas sim com uma esperada sala de visitas.

Sofás e cadeiras muito silenciosas e desconfiadas em seu silêncio. Todos os móveis nos olham e fingem não nos ver. Os móveis de uma sala de visita, que tem sempre uma porta para alguma entrada prevista, são sempre arredios e indiferentes. As portas dão sempre para “integras” salas de visitas, e mesmo assim, insistimos sempre em procurá-las para se entrar em algum lugar.

Mas há sempre alguém a caminhar pela rua, desapercebido do trânsito dos carros, das brigas dos irmãos e dos sons das televisões de alguma coisa. Nunca este soube o que viria a ser uma porta. Toda vez que sente que deve entrar em algum lugar, olha com certa suavidade para o céu, e procura por uma janela.

As janelas são diferentes. Elas não escancaram uma boca, mas insinuam um sorriso; não gritam para serem vistas, mas sopram para serem sentidas.

O sopro de uma janela revela um cheiro oculto, uma música desconhecida, uma melodia que afaga, um travesseiro com muitas lágrimas soltas ou um caderno com muitas lágrimas presas. Essa misteriosa maneira de se entrar nos lugares, jamais dará para uma concreta sala de visitas, porque nunca se espera que uma visita entre pela janela. Uma janela espera intrusos, aquelas pessoas que carregam o dom dos mais curiosos e saltam para dentro. A porta pede-nos apenas alguns passos, mas a janela exige-nos sem remorso um pequeno salto.

As janelas, seja em que parte do mundo elas se encontrem, darão sempre para o saboroso e aconchegante mistério que todo quarto esconde; todos os suspiros encontram-se em um quarto. Não conheço janela que não vá dar em um quarto. Os quartos não são como as valsas da sala de visitas. Eles mesmos são uma dança sem nome; um lugar sem endereço. Existe paixão nas janelas; um silêncio que chama muito a atenção. Nunca vemos o que está por trás de uma janela e de sua eterna brincadeira com o mistério; sempre caminhamos por um delicado e cativante caminho de suposições. As janelas brincam com nossos significados. Se entrarmos por uma janela em qualquer sala de visita, ela deixará de ser uma sala de visita e será um límpido e desconhecido quarto; lugar de falas baixas e toques silenciosos...

Quanto a mim, deixo minhas portas sempre abertas, esbaforidas, nítidas escancaradas; mas as janelas, essas prefiro deixar delicadamente entreabertas..

Madrugada do dia 06 para o dia 07



By Clóvis

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Silêncio

Palavras da boca pra fora são barulho

a verdade fala por si

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Matrix

Lembro de uma indagação de Morpheus no primeiro filme: "Real? O que é real? Se você define real como aquilo que vc pode ver, tocar, cheirar, ouvir, provar... então real são só sinais elétricos enviados para o seu cérebro". Todos sabemos que o real é mais do que isso. A fenomenologia tenta explicar que o homem, o ser que vê, que ouve, que cheira ou toca, está incluído de tal forma nos fenômenos que é impossível que eles ocorram sem a presença do observador. Claro que o mundo vai continuar existindo depois que você morrer. Porém, a realidade para cada um é única, é totalmente específica para cada pessoa. Não podemos nos excluir de nossa participação na criação da realidade. A gestalt-terapia cuida bem disso. Da tentativa de tornar o homem consciente de seu potencial de criação de realidade, porque isso é importante. Sempre olhar o Agora. Sempre se parte de onde está, não de onde esteve ou de onde estará. Não, o real não são apenas impulsos elétricos, o homem cria muitos fenômenos a partir do contato propiciado pelos estímulos externos e se engaja numa realidade pessoal. A maneira como ele visualiza os fenômenos é sua marca, única...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Palavras atemporais

Sou só eu ou mais alguém sente que as palavras do Gestalt-Terapia Explicada são atemporais? Sempre vejo o Perls falando quando leio qualquer página deste livro. Não é à toa que ele foi o criador da Gestalt-Terapia. Parece que a filosofia da coisa estava arraigada em suas veias. A fuga do racional, do cocô de galinha, de elefante, como ele fala, me faz ter fé na gestalt-terapia. Sim, porque não adianta falar coisas da boca pra fora. Eu sinto na obra de Perls um significado existencial muito mais profundo do que uma mera teoria. E sinto, desta forma, um elo autêntico, um contato genuíno que me faz tomar consciência de mim. Leitor e escritor vinculados por um discurso autêntico. Não acredito que seja unilateral. Eu devolvo de alguma forma, para o não-Eu, alguma forma de energia. Ler gestalt mexe comigo. E aposto que mexe com muita gente.

Porque escrever sobre Gestalt...

Eu prefiro perguntar: como é escrever sobre gestalt? Diria que é simplesmente acompanhar o fluxo da consciência. Seja ela limitada ou expandida, estando ou não na escuridão, sentindo ou não os dedos dos pés. O Eu funciona de forma íntegra. Ou pelo menos deveria funcionar. Imagine que você tem fome e, ao mesmo tempo, tem uma prova difícil no dia seguinte. Numa mesa próxima você vê uma maçã e um livro. Você, preocupado com a prova, porque já assumiu o papel de bom aluno, vai ler o livro e deixa a maçã de lado. O que acontece? Você não se concentra no estudo porque está de barriga vazia. O processo de ler o livro não funcionará bem, porque você não estará exercendo uma atividade sem estar preparado. Este exemplo é bem simples, pois é micro. Este mesmo modelo numa proporção macro certamente assume uma importância fundamental no bem-estar de qualquer ser humano. Criar, falar, expressar ou agir sem estar com as devidas necessidades primárias satisfeitas resulta em existência sem significado, sem energia. Estar maduro significa "estar preparado para".