Situações Inacabadas e Morte
Continuando a linha de raciocínio sobre a morte e o viver, é imprescindível
falarmos sobre as situações inacabadas, e como elas estão relacionadas aos
processos de perdas e luto.
Uma situação inacabada ou Gestalt incompleta é toda experiência que fica
suspensa até que a pessoa a conclua. A maioria das pessoas possuem uma
grande capacidade para tolerar situações inacabadas. Entretanto, estes
movimentos que não são completados buscam naturalmente um complemento e,
quando se tornam suficientemente poderosos, o indivíduo é envolvido por
preocupações, comportamentos compulsivos, cuidados, energia opressiva e
muitas atividades auto-frustrantes. É a auto-regulação organísmica fazendo
seu papel, buscando o equilíbrio. Por exemplo, se você não xinga seu chefe
no trabalho, mas gostaria realmente de fazê-lo, e então vai para casa e o
faz com seus filhos, há grandes probabilidades de que isto não funcione
porque é somente uma tentativa fraca ou parcial de terminar alguma coisa que
de qualquer maneira ainda está suspensa, inacabada. Uma vez que a
finalização foi alcançada e que pode ser experienciada plenamente no
presente, a preocupação com o antigo não-completamento é resolvido e a
pessoa pode caminhar para as possibilidades atuais, no Aqui-Agora.
No luto, as situações inacabadas emergem geralmente como um sentimento de
culpa. Em diversas situações de perda, como por exemplo, em suicídios, em
situações em que a pessoa falecida passou muito tempo debilitada por alguma
doença forte e foi acompanhada com angústia pelos familiares, em casos de
acidentes em que há sobreviventes, em situações em que há desentendimento ou
mágoa entre o morto e os que ficaram, há quase sempre presente o sentimento
de culpa. Seja por não ter vivido tudo o que queria com a pessoa que se foi,
ou por se achar causador da morte de um suicida, ou pelo arrependimento por
não ter passado os últimos momentos do falecido em harmonia com ele, muitas
pessoas carregam em si esse sentimento negativo. A culpa pode travar a vida
de uma pessoa por muito tempo, e geralmente esse sentimento está presente
até mesmo no dormir e no acordar desta pessoa, tornando-se um tormento
cotidiano.
Do fechamento das situações inacabadas depende o processo de luto saudável.
Num indivíduo integrado os processos de formação e destruição de Gestalten
são ininterruptos. As despedidas mal-feitas e os olhares mal dados às
vivências de perdas são fatores cruciais para entender como interrompemos
nosso fluxo auto-regulativo, e ficamos impedidos de viver plenamente no
momento presente.
domingo, 28 de dezembro de 2008
Gestalt e Psicologia da Morte (Parte IV)
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Gestalt e Psicologia da Morte (Parte III)
Evitação de Contato
muito valorizado, ao mesmo tempo em que as situações de despedidas e quebras
de vínculos não são encaradas de maneira profunda. O contato com os
sentimentos e sensações que emergem num contexto de morte, é geralmente
evitado, ou então acontece de forma rápida e superficial. A dor do luto é
negada, e as pessoas geralmente estão acostumadas a ouvir frases do tipo:
“Não chore” ; “vai passar”; “ bola pra frente”.
Existem muitas maneiras de se evitar o contato com a dor, há muitas maneiras
do indivíduo permanecer intacto ou parcialmente intacto, mas sempre às
custas da negação de partes valiosas de seu próprio self.
A perda não é aceita, no entanto, é impossível viver sem perder. Perdemos
pessoas (por morte ou qualquer outro tipo de separação), sonhos ou
expectativas de futuro ( por realização, adiamento ou desistência), imagem
ou função corporal (por envelhecimento, acidentes, doenças), casa ou
referência geográfica (pelas mais variadas mudanças), papéis ou ocupações
profissionais( por aposentadoria, desemprego) e a própria vida ( pela
morte). O ser humano apresenta a tendência de utilizar seus recursos
defensivos para não viver tais perdas com intensidade.
A dor do luto, quando não é integrada ao processo vivencial, quando é
evitada, refletirá em toda a vida da pessoa como uma situação inacabada.
Toda evitação de contato é uma fuga do momento presente, e é apenas
contatando o presente que existe a possibilidade de fechar as situações
abertas. Re-significar a dor é estabelecer uma nova forma de experiência,
fazer uma virada de mesa na própria "ironia do destino" e, antes de tudo, crescer.
Obs: Peço desculpas pela formatação do texto. Não estou conseguindo fazer ele ficar "bonitinho". rsrs
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Zonas de Consciência
Aí vai:
Zonas de Consciência
Agora dirija sua atenção a qualquer coisa da qual você esteja menos consciente, dentro oufora, e presentifique-a mais. Até que ponto você está ocupado com imagens, fantasias, pensamentos?... Observe que, enquanto você está ocupado com um pensamento ou imagem, sua consciência da realidade interna ou externa diminui ou desaparece... Se você aprender firmemetne a distinção entre fantasia e realidade da sua experiência presente, terá dado um grande passo no sentido de simplificar sua vida. "
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Gestalt e Psicologia da Morte (Parte II)
Teoria Organímica e Morte
O modelo de formação de Gestalten (plural da palavra Gestalt) pode ser explicado com o seguinte exemplo: Digamos que uma pessoa está sentada sozinha e lendo. O livro, naquele momento, é o centro de seu interesse e a pessoa está simplesmente empenhada, em contato com as idéias. Não se pode dizer que ela está consciente de seu particular processo de leitura. Suponha-se que no decorrer da leitura ela vai ficando progressivamente sequiosa. Então o foco de sua atenção vai aos poucos sendo deslocada para a boca e o interior da boca. A leitura deixa de ser o foco do fenômeno. A pessoa vai ficando, então, cônscia de uma mudança em si mesma que tem implicações para as suas relações com o meio externo. E então a pessoa levanta, caminha, satisfaz sua sede e volta à leitura. Esse é o protótipo da formação e destruição da Gestalt. O mundo fenomenal é organizado pelas necessidades do indivíduo. Estas energizam o comportamento e organizam-no nos níveis subjetivo-perceptivo e objetivo-motor. O indivíduo, então, executa as atividades necessárias à satisfação das necessidades.
Um organismo morto não mais efetua trocas com o seu meio, as necessidades corporais de uma pessoa morta não existem. Mas no comportamento dos que ficam e tinham alguma ligação com o morto permanece a tentativa, muitas vezes desesperada, de que essas trocas continuem. Os vivos sentem dor, saudade, angústia não pelos que se foram, mas por elas mesmas, por não poderem mais amar e serem amados, por não poderem atingir seu equilíbrio através das interações que mantinham com a pessoa que perderam. Segundo Goldstein (2000), “ a satisfação de qualquer necessidade específica está em primeiro plano quando é um pré-requisito para a auto-realização de um organismo total ”. A capacidade de auto-realização, que é a tendência
criativa da natureza humana, numa situação de perda fica, portanto, comprometida, na medida em que as necessidades de troca com o morto não podem ser efetivamente saciadas.
É necessário enfatizar a diferença entre auto-realização e realização da auto-imagem. A sua auto-imagem não é quem você é. Mas sim o que você “acha” que deve ser ou parecer para os outros. Perls falava que onde algumas pessoas tem um self, a maioria das pessoas têm um vazio, pois estão muito preocupadas em parecer algo quenãosão. É o que ele chamou de “tormento do
ideal”, o tormento de que você não deve ser o que você é. E todo esse controle para manter a auto-imagem é internalizado, interferindo no funcionamento sadio do organismo. A auto-realização é salientada pela teoria organísmica como o impulso básico para se viver.
A reflexão sobre auto-realização, portanto, é elemento essencial para pensarmos sobre o viver, pois dá a possibilidade de vislumbrar aspectos da vida que merecem ser mudados para que se alcance uma existência mais plena e significante. Sócrates dizia que “uma vida que não é analisada não vale a pena ser vivida”. Okajima (2005) entende que a busca por um projeto de vida só é possível na medida em que exista também a satisfação das necessidades e
potencialidades.
Se vivemos realmente uma vida que valha a pena ser vivida, provavelmente
sofreremos menos ao nos depararmos com a possibilidade real da nossa própria morte.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Gestalt e Psicologia da Morte (parte 1)
INTRODUÇÃO
domingo, 7 de dezembro de 2008
Mortalidade
Mário de Andrade
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Vontade
sábado, 15 de novembro de 2008
Já
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Reflexão
Em lugar do sentimento a mente coloca como substituto o pensamento lógico como motivador das ações, que deveriam ser naturais. E pra onde vão os sentimentos, se você os expulsa de si mesmo, como um pai expulsa os filhos do lar?
Desfragmentar-se! Implica em acolher ao invés de censurar, unir ao invés de separar.
A mudança ocorre quando paramos de tentar mudar. É mais útil conservar o que você tem de incômodo e experienciar isso, o Real, e assim conseguir uma Real ressignificação! Como diria Morpheu: "Neo, pare de tentar me acertar e me acerte!". Forçar uma mudança é como torturar-se para mudar de papel, de personagem. Maquiar a realidade pessoal é fechar-se ao prazer de se libertar de neuroses.
Pense nisso! Ou melhor,
Sinta isso!
domingo, 26 de outubro de 2008
Silêncio II
O silêncio é tolo quando somos sábios, mas é sábio quando somos tolos.
(Charles Caleb Colton)
SILÊNCIO
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Postura existencialista
E a oração da gestalt, para expressar essa postura:
"Eu faço minhas coisas, você faz as suas
Não estou neste mundo para viver
De acordo com suas expectativas,
E você não está neste mundo para viver
De acordo com as minhas.
Você é você e eu sou eu
E se, por acaso, nos encontrarmos, é lindo
Se não, nada há a fazer"
(Fritz Perls)
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Xingue seu chefe
"Uma situação inacabada é toda experiência que fica suspensa até que a pessoa a conclua. A maioria dos indivíduos tem uma grande capacidade para situações inacabadas. Embora se possa tolerar uma quantidade considerável de experiências inacabadas, estes movimentos não completados buscam um complemento e, quando se tornam suficientemente poderosos, o indivíduo é envolvido por preocupações, comportamentos compulsivos, cuidados, energia opressiva e muitas atividades auto-frustrantes. Se você não xinga seu chefe no trabalho, mas gostaria realmente de fazê-lo, e então vai para casa e o faz com seus filhos, as probabilidades são de que isto não funcione porque é somente uma tentativa fraca ou parcial de terminar alguma coisa que de qualquer maneira ainda está suspensa, inacabada... Uma vez que a finalização foi alcançada e que pode ser experenciada plenamente no presente, a preocupação com o antigo não-completamento é resolvido e a pessoa pode caminhar para as possibilidades atuais." (Fritz Perls)
Isso é lindo!
domingo, 28 de setembro de 2008
Torna-te quem és...
Há um lema
Mesmo que poucos possam ouví-lo
Ou simpatizem em seguir gritos de guerra
Faço-me ouvir por aqueles que querem ouvir
Quem quer algo, consegue
Mesmo coberto de vaidade ou de representações teatrais
Há ainda uma voz que usa o sistema contra ele próprio
E ao assumir essa voz, sinto-me desconfortável
Mas isso é só vaidade
Então, que seja útil de alguma forma
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Gestalt e movimento
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Já Nelas
As portas estão todas lá, e nos dizem sem demora nenhuma aquilo que nos espera para além de sua passagem. As portas são as primeiras e mais visíveis entradas; o esperado que cansado de tanto esperar, já se mostra. E mostra-nos, sem culpa e meia-culpa, a paisagem construída e óbvia do que seja uma sala de visitas.
Nas salas de visita, os visitantes são sempre aguardados de alguma maneira. Os visitantes visitam, e uma visita há de sempre ser esperada, por mais remota que seja a possibilidade d´ela aparecer. Porque as visitas apenas adentram aos recintos pelas portas; porque as visitas tocam as cigarras, batem palmas, assoviam ou gritam para anunciar sua presença. O que poderia ser surpreendente desaparece.
O anúncio anterior de uma chegada, já elimina naturalmente qualquer possibilidade de ela existir. As portas representam a morte das chegadas, o fim abrupto de todo o aparecimento e do mistério saboroso que pode envolver todo conhecimento imprevisto. Não se fala “apareceu pela porta”, mas sim “entrou pela porta”. As possibilidades se fecham com o lento escancarar-se de todas as portas. Damos de cara não com alguma coisa que nunca foi vista pelos nossos olhos, mas sim com uma esperada sala de visitas.
Sofás e cadeiras muito silenciosas e desconfiadas em seu silêncio. Todos os móveis nos olham e fingem não nos ver. Os móveis de uma sala de visita, que tem sempre uma porta para alguma entrada prevista, são sempre arredios e indiferentes. As portas dão sempre para “integras” salas de visitas, e mesmo assim, insistimos sempre em procurá-las para se entrar em algum lugar.
Mas há sempre alguém a caminhar pela rua, desapercebido do trânsito dos carros, das brigas dos irmãos e dos sons das televisões de alguma coisa. Nunca este soube o que viria a ser uma porta. Toda vez que sente que deve entrar em algum lugar, olha com certa suavidade para o céu, e procura por uma janela.
As janelas são diferentes. Elas não escancaram uma boca, mas insinuam um sorriso; não gritam para serem vistas, mas sopram para serem sentidas.
O sopro de uma janela revela um cheiro oculto, uma música desconhecida, uma melodia que afaga, um travesseiro com muitas lágrimas soltas ou um caderno com muitas lágrimas presas. Essa misteriosa maneira de se entrar nos lugares, jamais dará para uma concreta sala de visitas, porque nunca se espera que uma visita entre pela janela. Uma janela espera intrusos, aquelas pessoas que carregam o dom dos mais curiosos e saltam para dentro. A porta pede-nos apenas alguns passos, mas a janela exige-nos sem remorso um pequeno salto.
As janelas, seja em que parte do mundo elas se encontrem, darão sempre para o saboroso e aconchegante mistério que todo quarto esconde; todos os suspiros encontram-se em um quarto. Não conheço janela que não vá dar em um quarto. Os quartos não são como as valsas da sala de visitas. Eles mesmos são uma dança sem nome; um lugar sem endereço. Existe paixão nas janelas; um silêncio que chama muito a atenção. Nunca vemos o que está por trás de uma janela e de sua eterna brincadeira com o mistério; sempre caminhamos por um delicado e cativante caminho de suposições. As janelas brincam com nossos significados. Se entrarmos por uma janela em qualquer sala de visita, ela deixará de ser uma sala de visita e será um límpido e desconhecido quarto; lugar de falas baixas e toques silenciosos...
Quanto a mim, deixo minhas portas sempre abertas, esbaforidas, nítidas escancaradas; mas as janelas, essas prefiro deixar delicadamente entreabertas..
Madrugada do dia 06 para o dia 07