domingo, 28 de dezembro de 2008

Gestalt e Psicologia da Morte (Parte IV)

Situações Inacabadas e Morte


Continuando a linha de raciocínio sobre a morte e o viver, é imprescindível
falarmos sobre as situações inacabadas, e como elas estão relacionadas aos
processos de perdas e luto.
Uma situação inacabada ou Gestalt incompleta é toda experiência que fica
suspensa até que a pessoa a conclua. A maioria das pessoas possuem uma
grande capacidade para tolerar situações inacabadas. Entretanto, estes
movimentos que não são completados buscam naturalmente um complemento e,
quando se tornam suficientemente poderosos, o indivíduo é envolvido por
preocupações, comportamentos compulsivos, cuidados, energia opressiva e
muitas atividades auto-frustrantes. É a auto-regulação organísmica fazendo
seu papel, buscando o equilíbrio. Por exemplo, se você não xinga seu chefe
no trabalho, mas gostaria realmente de fazê-lo, e então vai para casa e o
faz com seus filhos, há grandes probabilidades de que isto não funcione
porque é somente uma tentativa fraca ou parcial de terminar alguma coisa que
de qualquer maneira ainda está suspensa, inacabada. Uma vez que a
finalização foi alcançada e que pode ser experienciada plenamente no
presente, a preocupação com o antigo não-completamento é resolvido e a
pessoa pode caminhar para as possibilidades atuais, no Aqui-Agora.
No luto, as situações inacabadas emergem geralmente como um sentimento de
culpa. Em diversas situações de perda, como por exemplo, em suicídios, em
situações em que a pessoa falecida passou muito tempo debilitada por alguma
doença forte e foi acompanhada com angústia pelos familiares, em casos de
acidentes em que há sobreviventes, em situações em que há desentendimento ou
mágoa entre o morto e os que ficaram, há quase sempre presente o sentimento
de culpa. Seja por não ter vivido tudo o que queria com a pessoa que se foi,
ou por se achar causador da morte de um suicida, ou pelo arrependimento por
não ter passado os últimos momentos do falecido em harmonia com ele, muitas
pessoas carregam em si esse sentimento negativo. A culpa pode travar a vida
de uma pessoa por muito tempo, e geralmente esse sentimento está presente
até mesmo no dormir e no acordar desta pessoa, tornando-se um tormento
cotidiano.
Do fechamento das situações inacabadas depende o processo de luto saudável.
Num indivíduo integrado os processos de formação e destruição de Gestalten
são ininterruptos. As despedidas mal-feitas e os olhares mal dados às
vivências de perdas são fatores cruciais para entender como interrompemos
nosso fluxo auto-regulativo, e ficamos impedidos de viver plenamente no
momento presente.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Gestalt e Psicologia da Morte (Parte III)

Evitação de Contato

Na cultura ocidental, o vinculo que mantemos com as pessoas e as coisas é
muito valorizado, ao mesmo tempo em que as situações de despedidas e quebras
de vínculos não são encaradas de maneira profunda. O contato com os
sentimentos e sensações que emergem num contexto de morte, é geralmente
evitado, ou então acontece de forma rápida e superficial. A dor do luto é
negada, e as pessoas geralmente estão acostumadas a ouvir frases do tipo:
“Não chore” ; “vai passar”; “ bola pra frente”.
Existem muitas maneiras de se evitar o contato com a dor, há muitas maneiras
do indivíduo permanecer intacto ou parcialmente intacto, mas sempre às
custas da negação de partes valiosas de seu próprio self.
A perda não é aceita, no entanto, é impossível viver sem perder. Perdemos
pessoas (por morte ou qualquer outro tipo de separação), sonhos ou
expectativas de futuro ( por realização, adiamento ou desistência), imagem
ou função corporal (por envelhecimento, acidentes, doenças), casa ou
referência geográfica (pelas mais variadas mudanças), papéis ou ocupações
profissionais( por aposentadoria, desemprego) e a própria vida ( pela
morte). O ser humano apresenta a tendência de utilizar seus recursos
defensivos para não viver tais perdas com intensidade.
A dor do luto, quando não é integrada ao processo vivencial, quando é
evitada, refletirá em toda a vida da pessoa como uma situação inacabada.
Toda evitação de contato é uma fuga do momento presente, e é apenas
contatando o presente que existe a possibilidade de fechar as situações
abertas. Re-significar a dor é estabelecer uma nova forma de experiência,
fazer uma virada de mesa na própria "ironia do destino" e, antes de tudo, crescer.

Obs: Peço desculpas pela formatação do texto. Não estou conseguindo fazer ele ficar "bonitinho". rsrs

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Zonas de Consciência

Achei interessante esse exercício do livro "Tornar-se Presente" (John O. Stevens). É uma técnica que você deve fazer sozinho, parece uma meditação direcionada. Vale apena, tive vários insights quando fiz. Não acho que fazer exercícios sozinhos substitui uma terapia, pelo simples fato de não haver o Outro (terapeuta) com o qual a transferência e os mecanismos de defesa pudessem ser trabalhados dentro da esfera do EU-TU. Mas vale a pena para nos observarmos de uma forma diferente. Acho que escrever sobre a experiência é uma boa também.
Aí vai:

Zonas de Consciência

"Dedique algum tempo para prestar atenção àquilo que você agora tem presente na sua consciência. Seja somente um observador da sua consciência, e veja para onde ela vai. Diga a si mesmo: " Agora tenho presente..." e complete esta sentença com o que se fizer presente no momento; observe se os conteúdos estão fora, dentro ou apenas na fantasia... Para onde vai sua atenção?...Você etá na maior parte do tempo, consciente de coisas fora do corpo, ou de sensações dentro da pele?...
Agora dirija sua atenção a qualquer coisa da qual você esteja menos consciente, dentro oufora, e presentifique-a mais. Até que ponto você está ocupado com imagens, fantasias, pensamentos?... Observe que, enquanto você está ocupado com um pensamento ou imagem, sua consciência da realidade interna ou externa diminui ou desaparece... Se você aprender firmemetne a distinção entre fantasia e realidade da sua experiência presente, terá dado um grande passo no sentido de simplificar sua vida. "

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Gestalt e Psicologia da Morte (Parte II)

Atendendo a pedidos ;) , aí vai a segunda parte do meu trabalho sobre Psicologia da Morte:

Teoria Organímica e Morte

Talvez por sermos organismos biológicos façamos qualquer coisa para continuarmos vivos. A Gestalt possui uma visão holística do organismo. Isso significa que nós não temos um corpo, mas nós somos um corpo, e este funciona como um todo. O corpo não é apenas a soma de vários órgãos, mas sim, uma unidade que responderá de forma integrada aos estímulos externos. Goldstein (1985) diz que “o organismo é uma só unidade; o que ocorre em uma parte, afeta o todo”. De acordo com Perls (1979), um organismo é qualquer ser vivo que possua órgãos, que tenha uma organização e que se auto-regule. Um organismo não é independente do ambiente, necessitando dele para trocar materiais essenciais. Através dessa troca o equilíbrio é alcançado e o organismo tem suas necessidades saciadas.
O modelo de formação de Gestalten (plural da palavra Gestalt) pode ser explicado com o seguinte exemplo: Digamos que uma pessoa está sentada sozinha e lendo. O livro, naquele momento, é o centro de seu interesse e a pessoa está simplesmente empenhada, em contato com as idéias. Não se pode dizer que ela está consciente de seu particular processo de leitura. Suponha-se que no decorrer da leitura ela vai ficando progressivamente sequiosa. Então o foco de sua atenção vai aos poucos sendo deslocada para a boca e o interior da boca. A leitura deixa de ser o foco do fenômeno. A pessoa vai ficando, então, cônscia de uma mudança em si mesma que tem implicações para as suas relações com o meio externo. E então a pessoa levanta, caminha, satisfaz sua sede e volta à leitura. Esse é o protótipo da formação e destruição da Gestalt. O mundo fenomenal é organizado pelas necessidades do indivíduo. Estas energizam o comportamento e organizam-no nos níveis subjetivo-perceptivo e objetivo-motor. O indivíduo, então, executa as atividades necessárias à satisfação das necessidades.
Um organismo morto não mais efetua trocas com o seu meio, as necessidades corporais de uma pessoa morta não existem. Mas no comportamento dos que ficam e tinham alguma ligação com o morto permanece a tentativa, muitas vezes desesperada, de que essas trocas continuem. Os vivos sentem dor, saudade, angústia não pelos que se foram, mas por elas mesmas, por não poderem mais amar e serem amados, por não poderem atingir seu equilíbrio através das interações que mantinham com a pessoa que perderam. Segundo Goldstein (2000), “ a satisfação de qualquer necessidade específica está em primeiro plano quando é um pré-requisito para a auto-realização de um organismo total ”. A capacidade de auto-realização, que é a tendência
criativa da natureza humana, numa situação de perda fica, portanto, comprometida, na medida em que as necessidades de troca com o morto não podem ser efetivamente saciadas.
É necessário enfatizar a diferença entre auto-realização e realização da auto-imagem. A sua auto-imagem não é quem você é. Mas sim o que você “acha” que deve ser ou parecer para os outros. Perls falava que onde algumas pessoas tem um self, a maioria das pessoas têm um vazio, pois estão muito preocupadas em parecer algo quenãosão. É o que ele chamou de “tormento do
ideal”, o tormento de que você não deve ser o que você é. E todo esse controle para manter a auto-imagem é internalizado, interferindo no funcionamento sadio do organismo. A auto-realização é salientada pela teoria organísmica como o impulso básico para se viver.
A reflexão sobre auto-realização, portanto, é elemento essencial para pensarmos sobre o viver, pois dá a possibilidade de vislumbrar aspectos da vida que merecem ser mudados para que se alcance uma existência mais plena e significante. Sócrates dizia que “uma vida que não é analisada não vale a pena ser vivida”. Okajima (2005) entende que a busca por um projeto de vida só é possível na medida em que exista também a satisfação das necessidades e
potencialidades.
Se vivemos realmente uma vida que valha a pena ser vivida, provavelmente
sofreremos menos ao nos depararmos com a possibilidade real da nossa própria morte.
.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Gestalt e Psicologia da Morte (parte 1)

"O ser para a frente de si mesmo nada mais é do que o ser para a morte. É essa certeza inaceitável que fundamenta a ambiguidade do horizonte existencial. Todos os mitos de tempo são mitos de cataclismos, que buscam no fim do mundo uma promessa de ressureição...o tempo é criação do homem, não apenas na forma de parâmetro que facilita a ordenação das ações humanas, mas sobretudo como tentativa de negar a própria morte."
(Augras)

INTRODUÇÃO

Conta uma parábola budista que uma jovem mãe estava angustiada com a morte de seu bebê, e, não agüentando mais suas lástimas, pede conselho a Buda. Ela conta que estava extremamente triste e incapaz de superar essa perda devastadora. Buda manda que ele vá em todas as casas da aldeia e traga uma semente de mostarda de cada casa que nunca conheceu a morte e as leve pra ele. Ela, diligentemente, bateu de porta em porta, e, como sempre saía com as mãos vazias; percebeu então que não havia nenhuma casa que não havia sido tocada pela morte. Ela voltou a Buda sem nenhuma semente de mostarda e ele disse o que ela já percebera: não estava sozinha. A morte é algo que acontece a todos nós, a todas as famílias. É só uma questão de tempo. O que é inevitável, disse ele, não deveria ser excessivamente lamentado.Sendo a morte talvez a única verdade certa com que temos que lidar, pelo simples fato de termos nascido e estarmos vivos, o grande questionamento que se faz é porque a maioria das pessoas encara a morte com surpresa ou choque. De fato, o maior obstáculo enfrentado diante da perda de uma pessoa querida ou quando se defronta com a própria mortalidade é o reconhecimento que a morte faz parte da vida. A percepção da nossa condição de finitude emerge nas situações críticas, e é nessa hora que temos que lidar com algo que por definição não poderá jamais ser restituído. Ficam as recordações da pessoa que se foi, mas o contato emocional direto nunca mais poderá ocorrer. Quando se perde alguém querido, perde-se um universo inteiro de relações que integravam a nossa própria existência. Então nos sentimos diminuídos emocionalmente com a ausência daquela pessoa.Em algumas filosofias orientais é ensinado que conhecemos as coisas comparando-as com o seu complemento. Dessa forma, podemos entender melhor a morte se analisarmos a vida, ou vice-versa, podemos compreender melhor a vida quando aceitamos a morte, ou quando passamos por experiências em que a morte chegou bem perto do nosso espaço. Não é à toa que pessoas que escapam ilesas de algum acidente violento ou sobrevivem a um câncer contra todas as expectativas médicas, afirmam que passam a dar mais valor à vida.
Outra parábola budista conta que um monge conservava uma xícara de chá ao lado de sua cama, e, toda noite, ele a emborcava. Toda manhã ele tornava a virá-la. Quando um noviço perguntou o motivo, o monge explicou que esvaziava simbolicamente a xícara da vida toda noite para indicar sua aquiescência à sua própria mortalidade. O ritual servia para lembrar que havia feito todas as coisas que tinha pra fazer naquele dia, e, assim estava preparado se a morte chegasse. Toda manhã, virava novamente a xícara como sinal que aceitava a dádiva de um novo dia. Assim, ele vivia um dia de cada vez, reconhecendo a dádiva maravilhosa da vida em cada amanhecer, mas preparado para abandoná-la no fim de cada dia.Falar sobre morte é, portanto, falar sobre a vida, sobre o valor da vida. E a maneira mais enfática de valorizar a vida é (re)descobrir o momento presente, vivenciar autenticamente a experiência de se estar no Aqui-Agora. A história é passado, não se pode alterá-la; o futuro é incerto, apenas soma de projeções que fazemos. É, então, no momento presente que existe a possibilidade de percebermos o quanto negamos qualquer reflexão sobre a morte. O quanto evitamos uma incursão no campo do desconhecido, que é, segundo Clarice Lispector onde reside a largueza de cada um de nós. Se estabelecermos um contato autêntico com a idéia de nossa própria finitude, poderemos abrir espaço dentro de nós para ressignificar nossa relação com o viver, dando uma nova qualidade a este ato.A Gestalt-terapia adiciona suficiente embasamento para discorrer acerca do fenômeno da morte, na medida em que é basicamente uma filosofia de vida que aponta um direcionamento para a tomada de consciência do presente, do Aqui-Agora, ou seja, para a tomada de consciência da vida, através do contato autêntico com o mundo, e da integração das partes da personalidade que estão fragmentadas pela falta do contato saudável com o meio.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Mortalidade

"As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos. Quero essência, minha alma tem pressa... Quero viver ao lado de gente que sabe rir dos seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade e deseja tão somente andar em paz e amor no coração. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes nunca será perda de tempo."

Mário de Andrade

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Vontade

Vontade

Não quero teus pés aprisionados em sapatos: teus pés são raízes que nunca se fixam. Eu quero as histórias de tuas andanças. Não quero teus olhos pousados em mim, quero o que eles vêem quando olhas o longe, o que eles escondem quando estás dormindo. Não quero o que há em ti de delicado, a concha da orelha, os dedos das mãos, a ternura que atrai crianças e passarinhos. Tampouco quero tua brusquidão, teu alheamento frente às coisas da vida, esse dom de magoar, ciente do que faz. Só quero de ti o que não te pertence -o que foge ao teu controle, o que vai além de ti. Não quero de tua boca discurso ou silêncio, sequer tua risada, que exige consciência. Eu quero o grito.
By Geórgia Teodoro

sábado, 15 de novembro de 2008

Agora
É apenas isto
nenhum projeto nem manuscrito final
sobrevive, com o qual se possa especular,
porque eu os queimei
Nenhuma edição nem data,
não distingo impressões,
números, sinais ou cópias,
então, o que você assimila, colecionador,
não será apreciado.
Não ponha isto em sua prateleira, crítico
porque o papel especial dissolve tudo no ar.
Leia, isto é tudo;
agora é o único tempo
para receber a hóstia de nosso sacramento
antes que desapareça.
Isto é tudo que há.
(Peter Goblen)
"Prove-me que o mundo não foi criado a dois segundos atrás, completo, com artefatos e recordações".

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Reflexão

Você come porque tem fome, ou almoça porque é meio-dia?
Em lugar do sentimento a mente coloca como substituto o pensamento lógico como motivador das ações, que deveriam ser naturais. E pra onde vão os sentimentos, se você os expulsa de si mesmo, como um pai expulsa os filhos do lar?
Desfragmentar-se! Implica em acolher ao invés de censurar, unir ao invés de separar.
A mudança ocorre quando paramos de tentar mudar. É mais útil conservar o que você tem de incômodo e experienciar isso, o Real, e assim conseguir uma Real ressignificação! Como diria Morpheu: "Neo, pare de tentar me acertar e me acerte!". Forçar uma mudança é como torturar-se para mudar de papel, de personagem. Maquiar a realidade pessoal é fechar-se ao prazer de se libertar de neuroses.
Pense nisso! Ou melhor,
Sinta isso!

domingo, 26 de outubro de 2008

Silêncio II

Para aqueles que se encontram inundados com respostas prontas e automáticas, presos ao diálogo neurótico, perto do que quer ser, mas longe do que se é... O silêncio pode falar melhor.

O silêncio é tolo quando somos sábios, mas é sábio quando somos tolos.
(Charles Caleb Colton)

SILÊNCIO
Pense em alguém que seja poderoso...Essa pessoa briga e grita como uma galinha, ou olha e silencia, como um lobo?Lobos não gritam.Eles têm a aura de força e poder.Observam em silêncio.Somente os poderosos, sejam lobos, homens ou mulheres, respondem a um ataque verbal com o silêncio.Além disso, quem evita dizer tudo o que tem vontade, raramente se arrepende por magoar alguém com palavras ásperas e impensadas.Exatamente por isso, o primeiro e mais óbvio sinal de poder sobre si mesmo é o silêncio em momentos críticos.Se você está em silêncio, olhando para o problema, mostra que está pensando, sem tempo para debates fúteis.Se for uma discussão que já deixou o terreno da razão, quem silencia mostra que já venceu, mesmo quando o outro lado insiste em gritar a sua derrota.Olhe.Sorria.Silencie.Vá em frente.Lembre-se que há momentos de falar e há momentos de silenciar.Escolha qual desses momentos é o correto, mesmo que tenha que se esforçar para isso.Por alguma razão, provavelmente cultural, somos treinados para a (falsa) idéia de que somos obrigados a responder a todas as perguntas e reagir a todos os ataques.Não é verdade!Você responde somente ao que quer responder e reage somente ao que quer reagir.Você nem mesmo é obrigado a atender seu telefone pessoal.Falar é uma escolha, não uma exigência, por mais que assim o pareça.Você pode escolher o silêncio.Além disso, você não terá que se arrepender por coisas ditas em momentos impensados, como defendeu Xenocrates, mais de trezentos anos antes de Cristo, ao afirmar:"Me arrependo de coisas que disse mas jamais do meu silêncio".Responda com o silêncio, quando for necessário.Use sorrisos, não sorrisos sarcásticos, mas reais.Use o olhar, use um abraço ou use outra coisa para não responder em alguns momentos.Você verá que o silêncio pode ser a mais poderosa das respostas.E, no momento certo, a mais compreensiva e real delas.
(Aldo Novak)

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Postura existencialista

" Como o existencialista, também o gestaltista é uma pessoa incomodada e que incomoda, porque ambos vivem e possuem mensagens diretas, desinteressadas, descompromissadas. Como para o existencialista, também o gestaltista é a figura que se nega a submergir inconscientemente no mundo que a cerca. ele é, antes de tudo, um responsável por si mesmo. Sem ser um isolado, um egoísta, ele é alguém que, amando-se antes de qualquer outro, aprendeu que seu amor por si mesmo se transforma na sua própria medida de amar os outros." (Jorge Ponciano)

E a oração da gestalt, para expressar essa postura:

"Eu faço minhas coisas, você faz as suas
Não estou neste mundo para viver
De acordo com suas expectativas,
E você não está neste mundo para viver
De acordo com as minhas.
Você é você e eu sou eu
E se, por acaso, nos encontrarmos, é lindo
Se não, nada há a fazer"
(Fritz Perls)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Xingue seu chefe

"Uma situação inacabada é toda experiência que fica suspensa até que a pessoa a conclua. A maioria dos indivíduos tem uma grande capacidade para situações inacabadas. Embora se possa tolerar uma quantidade considerável de experiências inacabadas, estes movimentos não completados buscam um complemento e, quando se tornam suficientemente poderosos, o indivíduo é envolvido por preocupações, comportamentos compulsivos, cuidados, energia opressiva e muitas atividades auto-frustrantes. Se você não xinga seu chefe no trabalho, mas gostaria realmente de fazê-lo, e então vai para casa e o faz com seus filhos, as probabilidades são de que isto não funcione porque é somente uma tentativa fraca ou parcial de terminar alguma coisa que de qualquer maneira ainda está suspensa, inacabada... Uma vez que a finalização foi alcançada e que pode ser experenciada plenamente no presente, a preocupação com o antigo não-completamento é resolvido e a pessoa pode caminhar para as possibilidades atuais." (Fritz Perls)

Isso é lindo!


domingo, 28 de setembro de 2008

Torna-te quem és...

"Um grão de trigo tem o potencial de se tornar uma planta e a planta de trigo é sua realização. Auto-realização significa que o grão de trigo se realizará como planta de trigo e nunca como planta de cevada. "

Há um lema
Mesmo que poucos possam ouví-lo
Ou simpatizem em seguir gritos de guerra
Faço-me ouvir por aqueles que querem ouvir
Quem quer algo, consegue
Mesmo coberto de vaidade ou de representações teatrais
Há ainda uma voz que usa o sistema contra ele próprio
E ao assumir essa voz, sinto-me desconfortável
Mas isso é só vaidade
Então, que seja útil de alguma forma

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Gestalt e movimento

Em níveis pequenos as gestalten abertas são completamente suportáveis... mas o efeito cumulativo das situações inacabadas pode criar uma crosta dura que aparece como resistência às mudanças. A quebra das barreiras, das crostas, implica em auto-esforço e liberação. É baseada nas filosofias orientais, principalmente o zen-budismo, que a gestalt se apóia enquanto filosofia de vida. É um auto-perceber-se em movimento. Mas o budismo gestáltico requer inclusão e experienciação de si-mesmo, principalmente das sombras, dos medos, daquilo que teimamos em não aceitar. A auto-aceitação é um processo de enfrentamento difícil, de quebra de padrões internos. A gestalt não é superficial apenas por não dar tanta importância às interpretações do inconsciente. A gestalt é profunda justamente por trabalhar o homem como ele é. Não como ele foi. Através dos enfrentamentos de situações resistentes é que a verdade vem à tona... uma verdade pessoal muito mais profunda, limpa, sem o nevoeiro das distorções que teimamos em criar.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Já Nelas

Tão somente trata-se de contemplar as janelas.

As portas estão todas lá, e nos dizem sem demora nenhuma aquilo que nos espera para além de sua passagem. As portas são as primeiras e mais visíveis entradas; o esperado que cansado de tanto esperar, já se mostra. E mostra-nos, sem culpa e meia-culpa, a paisagem construída e óbvia do que seja uma sala de visitas.

Nas salas de visita, os visitantes são sempre aguardados de alguma maneira. Os visitantes visitam, e uma visita há de sempre ser esperada, por mais remota que seja a possibilidade d´ela aparecer. Porque as visitas apenas adentram aos recintos pelas portas; porque as visitas tocam as cigarras, batem palmas, assoviam ou gritam para anunciar sua presença. O que poderia ser surpreendente desaparece.

O anúncio anterior de uma chegada, já elimina naturalmente qualquer possibilidade de ela existir. As portas representam a morte das chegadas, o fim abrupto de todo o aparecimento e do mistério saboroso que pode envolver todo conhecimento imprevisto. Não se fala “apareceu pela porta”, mas sim “entrou pela porta”. As possibilidades se fecham com o lento escancarar-se de todas as portas. Damos de cara não com alguma coisa que nunca foi vista pelos nossos olhos, mas sim com uma esperada sala de visitas.

Sofás e cadeiras muito silenciosas e desconfiadas em seu silêncio. Todos os móveis nos olham e fingem não nos ver. Os móveis de uma sala de visita, que tem sempre uma porta para alguma entrada prevista, são sempre arredios e indiferentes. As portas dão sempre para “integras” salas de visitas, e mesmo assim, insistimos sempre em procurá-las para se entrar em algum lugar.

Mas há sempre alguém a caminhar pela rua, desapercebido do trânsito dos carros, das brigas dos irmãos e dos sons das televisões de alguma coisa. Nunca este soube o que viria a ser uma porta. Toda vez que sente que deve entrar em algum lugar, olha com certa suavidade para o céu, e procura por uma janela.

As janelas são diferentes. Elas não escancaram uma boca, mas insinuam um sorriso; não gritam para serem vistas, mas sopram para serem sentidas.

O sopro de uma janela revela um cheiro oculto, uma música desconhecida, uma melodia que afaga, um travesseiro com muitas lágrimas soltas ou um caderno com muitas lágrimas presas. Essa misteriosa maneira de se entrar nos lugares, jamais dará para uma concreta sala de visitas, porque nunca se espera que uma visita entre pela janela. Uma janela espera intrusos, aquelas pessoas que carregam o dom dos mais curiosos e saltam para dentro. A porta pede-nos apenas alguns passos, mas a janela exige-nos sem remorso um pequeno salto.

As janelas, seja em que parte do mundo elas se encontrem, darão sempre para o saboroso e aconchegante mistério que todo quarto esconde; todos os suspiros encontram-se em um quarto. Não conheço janela que não vá dar em um quarto. Os quartos não são como as valsas da sala de visitas. Eles mesmos são uma dança sem nome; um lugar sem endereço. Existe paixão nas janelas; um silêncio que chama muito a atenção. Nunca vemos o que está por trás de uma janela e de sua eterna brincadeira com o mistério; sempre caminhamos por um delicado e cativante caminho de suposições. As janelas brincam com nossos significados. Se entrarmos por uma janela em qualquer sala de visita, ela deixará de ser uma sala de visita e será um límpido e desconhecido quarto; lugar de falas baixas e toques silenciosos...

Quanto a mim, deixo minhas portas sempre abertas, esbaforidas, nítidas escancaradas; mas as janelas, essas prefiro deixar delicadamente entreabertas..

Madrugada do dia 06 para o dia 07



By Clóvis

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Silêncio

Palavras da boca pra fora são barulho

a verdade fala por si

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Matrix

Lembro de uma indagação de Morpheus no primeiro filme: "Real? O que é real? Se você define real como aquilo que vc pode ver, tocar, cheirar, ouvir, provar... então real são só sinais elétricos enviados para o seu cérebro". Todos sabemos que o real é mais do que isso. A fenomenologia tenta explicar que o homem, o ser que vê, que ouve, que cheira ou toca, está incluído de tal forma nos fenômenos que é impossível que eles ocorram sem a presença do observador. Claro que o mundo vai continuar existindo depois que você morrer. Porém, a realidade para cada um é única, é totalmente específica para cada pessoa. Não podemos nos excluir de nossa participação na criação da realidade. A gestalt-terapia cuida bem disso. Da tentativa de tornar o homem consciente de seu potencial de criação de realidade, porque isso é importante. Sempre olhar o Agora. Sempre se parte de onde está, não de onde esteve ou de onde estará. Não, o real não são apenas impulsos elétricos, o homem cria muitos fenômenos a partir do contato propiciado pelos estímulos externos e se engaja numa realidade pessoal. A maneira como ele visualiza os fenômenos é sua marca, única...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Palavras atemporais

Sou só eu ou mais alguém sente que as palavras do Gestalt-Terapia Explicada são atemporais? Sempre vejo o Perls falando quando leio qualquer página deste livro. Não é à toa que ele foi o criador da Gestalt-Terapia. Parece que a filosofia da coisa estava arraigada em suas veias. A fuga do racional, do cocô de galinha, de elefante, como ele fala, me faz ter fé na gestalt-terapia. Sim, porque não adianta falar coisas da boca pra fora. Eu sinto na obra de Perls um significado existencial muito mais profundo do que uma mera teoria. E sinto, desta forma, um elo autêntico, um contato genuíno que me faz tomar consciência de mim. Leitor e escritor vinculados por um discurso autêntico. Não acredito que seja unilateral. Eu devolvo de alguma forma, para o não-Eu, alguma forma de energia. Ler gestalt mexe comigo. E aposto que mexe com muita gente.

Porque escrever sobre Gestalt...

Eu prefiro perguntar: como é escrever sobre gestalt? Diria que é simplesmente acompanhar o fluxo da consciência. Seja ela limitada ou expandida, estando ou não na escuridão, sentindo ou não os dedos dos pés. O Eu funciona de forma íntegra. Ou pelo menos deveria funcionar. Imagine que você tem fome e, ao mesmo tempo, tem uma prova difícil no dia seguinte. Numa mesa próxima você vê uma maçã e um livro. Você, preocupado com a prova, porque já assumiu o papel de bom aluno, vai ler o livro e deixa a maçã de lado. O que acontece? Você não se concentra no estudo porque está de barriga vazia. O processo de ler o livro não funcionará bem, porque você não estará exercendo uma atividade sem estar preparado. Este exemplo é bem simples, pois é micro. Este mesmo modelo numa proporção macro certamente assume uma importância fundamental no bem-estar de qualquer ser humano. Criar, falar, expressar ou agir sem estar com as devidas necessidades primárias satisfeitas resulta em existência sem significado, sem energia. Estar maduro significa "estar preparado para".